sexta-feira, 25 de outubro de 2013

Noite e seu umbral


Opiáceos embrenham-se nas veias do acaso.
Rasgando as fendas da cidade
nossos olhos procuram por uma luz transcendente:
a cada esquina cortada,
ratos nos espreitam sobre os esgotos deste caminho

O cenho cada vez mais carregado
o cerne cada vez mais suplicado
e a boca
cada vez mais seca
balbuciando palavras desconexas e intangíveis
- sobretudo por aqueles que repousam
na fagulha tênue de seu cais -

Estas ladeiras periféricas
tão íngremes como rochas andinas
suprimem a inocente razão
sucumbem os espíritos lacunares que
i n c e s s a n t e m e n te
procuram os limítrofes de seus prazeres
sobre o cume decadente
na colina das paixões


Mantra profanum



É preciso
a plácida sensação de ser quem somos
e mastigar as dores de nossa alma
tornando
- sob o corpo da calma -
degeneração em flores


Transpiração urbana


Somos todos personagens de Will Eisner

entrecortando as paredes intransponíveis

de uma cidade-dormitório

refazendo nossas frustrações sôfregas

sobre um cume de mesmice cinza

E sentindo

                                    a cada passo solitário

 a áurea sublime

destes
desvalidos devaneios urbanos


Will Eisner - Nova York

terça-feira, 9 de julho de 2013

Áporos de Alice


A fumaça deste calado cigarro
rasga as faces de nossas almas
assim como lâminas que se embrenham
por entre as cinzas suspensas
dos corações obtusos esclarecidos

Enlouquecidos por respostas aparentes
os olhos de Alice irrompem caminhos metafóricos
escritos e desenhados por uma doce mente -
matemática sublime inexata 

Quantos espelhos serão necessários
para que as faces do abismo
expressem o tamanho espanto
destes corpos enfraquecidos?


Ilustração: Luiz Zerbini

nonsense

o que é o tempo?

descabimento inerente
entre
dicotômicas linhas tênues da razão

(força suspensa sobre polos antitéticos)

Ponteiros de Alice


Nos contratempos do relógio estático
o corpo flutua sereno, espásmico.
A áurea dos paradoxos solenes
refuta o gosto flácido da aurora
em meio a dança
 - insana e descabida -
destas verdes cartolas inesquecidas.


Caro amigo

Enquanto o sopro denso da vida
o carrega aos abismos de tua alma
alguém dorme serenamente sobre o trauma
desta imensa falta de anseios
- inocentes e improváveis -
desfalecidos sob a égide da desrazão.

A estafa do amor o consumou,
caro amigo
Agora,
sobre a poeira cinza de teu corpo
escrevo a decadência deste branco em seus opostos:
à procura de tua essência
à procura de teu gosto.

sexta-feira, 24 de maio de 2013

Flagelo sidártico


Dançava um seco e denso ciclo
suspirando os espinhos doces
da saliva esquálida de seu abismo

Sob a aurora gélida do Nepal
escarrou o último gosto esperançoso-
um majestoso náufrago viscoso

Como imponente mantra mítico
o ente tísico e melindroso
suspira seu caos, suspenso desgosto

E no futuro fétido como Ganges
sucumbirá em fezes sua falange:
o Dharma terno suicidante.

domingo, 21 de abril de 2013

Devaneio "atípico"

E nos mocambos de nossas veias
escorre o líquido séquido da memória
- pulsante intermédio entre o acaso e a alma.

Límpidos e gritantes espasmos
suspendem os cantos líricos
que evidenciam sublimantes existências.

O amor oblíquo e obtuso,
intermitente e obscuro,
abstrai as flores de nosso abismo.

Um respiro irrompe os caminhos
de tantas flores e espinhos
no devaneio inesquecido.

Seus cabelos escorrem
por entre as cores de meu espírito:
sórdido tapete em meus delírios.

E sobre a súbita existência
os demônios em essência
exalam míticas decadências.

"Como um sangue novo / como um grito no ar / correnteza de rio / que não vai se acalmar"

terça-feira, 29 de janeiro de 2013

Sarau no Caos


Sobre os escombros da cidade desnascida
poetas desvairados esquizofrênicos
lambuzam-se em frescos frêmitos
ejaculando versos na carniça

Plásticos / esquálidos artistas
respiram o aroma fétido da estação
mesmo sabendo que em vão
sucumbem à ordem dos fascistas

Maldita cidade-dormitório!
(re)trata seus mortos com altivez:
aromatiza de merda seus velórios
fúnebre chorume que se fez

Ainda assim, em meio aos ratos,
sobrepondo-se a tais fatos
sublimação e arte foram consumados:
Sarau no Caos, 
a construção dos resignados!

Foto: "2º Sarau no Caos" - Sueliton Lima   

segunda-feira, 28 de janeiro de 2013

Sob a cólera de Poseidon


Arquipélagos inconscientes
dotados de amor translúcido
são engolidos subitamente
pelo voraz oceano de mágoas

Assim como Tera
sobreposta entre as águas
do que sempre obtivera:
um mí(s)tico gosto
delicado e exposto -
paixão que supera
indecifrável desgosto

A saliva dessas palavras
sobre a pele detivera
que como súplica despida
despojou-se do meu corpo

E o sopro do amor 
- antes doce porto -
instaura-se no mar cinza
do nosso sacro aborto.







quarta-feira, 2 de janeiro de 2013

Eros & translação

uma semana
um mês
dois anos
nada se desfaz
soberano

em meio as castas
do cotidiano
seu semblante denso:
pura luz profana

conhecer um signo
-vértice súbito-
encasmurrado, assumo
sua flor púrpura
euclidiana

amor intenso
profícuo anseio
transcende insígnias
sublime enleio.















Poema LIUBLIÚ - Maiakóvski