sexta-feira, 25 de outubro de 2013

Noite e seu umbral


Opiáceos embrenham-se nas veias do acaso.
Rasgando as fendas da cidade
nossos olhos procuram por uma luz transcendente:
a cada esquina cortada,
ratos nos espreitam sobre os esgotos deste caminho

O cenho cada vez mais carregado
o cerne cada vez mais suplicado
e a boca
cada vez mais seca
balbuciando palavras desconexas e intangíveis
- sobretudo por aqueles que repousam
na fagulha tênue de seu cais -

Estas ladeiras periféricas
tão íngremes como rochas andinas
suprimem a inocente razão
sucumbem os espíritos lacunares que
i n c e s s a n t e m e n te
procuram os limítrofes de seus prazeres
sobre o cume decadente
na colina das paixões


Mantra profanum



É preciso
a plácida sensação de ser quem somos
e mastigar as dores de nossa alma
tornando
- sob o corpo da calma -
degeneração em flores


Transpiração urbana


Somos todos personagens de Will Eisner

entrecortando as paredes intransponíveis

de uma cidade-dormitório

refazendo nossas frustrações sôfregas

sobre um cume de mesmice cinza

E sentindo

                                    a cada passo solitário

 a áurea sublime

destes
desvalidos devaneios urbanos


Will Eisner - Nova York