Os pés não estão sólidos, a saliva amarga não cabe na estreiteza da breve e insólita existência, fatos incabíveis para alguém que respira serenamente, que consegue e pode se alimentar com afinco, mesmo que as flores mastigadas estejam vencidas pelo tempo, apodrecidas pelo sofrimento.
Sofrimento este que advém de um permanente desassossego existencial, onde a postura diante da vida não se corresponde com os hábitos e valores morais impostos diariamente pelos corruptores da liberdade, aqueles ludibriadores e tenebrosos senhores da Verdade.
Estar breve, estar aparente e genericamente ausente de introspecção pode fazer do indivíduo um ser razoável, um ser feliz e satisfeito com tudo o que (não) tem. É natural sabermos que o “não ter”, nesse caso, não estabelece relação alguma com questões materiais pejorativas, bens e (in)utilidades tão (oni)presentes nesta sociedade diluída de inerência, distanciada da visceral paixão dos sentidos, da beatitude transgressiva do que a dor e o amor podem propiciar – o deliciar-se com um sofrimento inevitável e único, a epifania do “distanciar-se” lírico de uma solitude que ganha vida e autonomia nas nuances mais intensas da existência.
No entanto, ainda que este distanciamento possa se transmutar em um “deliciar-se” único e pontual, a visceralidade desta cicuta lírica é irremediável e cancerígena, fadando todas as instâncias vívidas a uma escravização atroz e colérica.
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