sábado, 28 de março de 2009

" O Maior de todos é Rimbaud "

Essa frase elucida a imensa admiração de Vinícius de Moraes pelo inimitável, genial, poeta maldito do século XIX. Continuando a "punhetagem" rimbaudista, posto aqui um clássico do caótico poeta:

Uma Temporada no Inferno

Antes, se lembro bem, minha vida era um festim em que se abriam todos os corações, todos os vinhos corriam.
Uma noite, fiz a Beleza sentar no meu colo. E achei amarga. Injuriei.

Me preveni contra a injustiça.

Fugi. Ó bruxas, ó miséria, ó ódio, a vós meu tesouro foi entregue!

Consegui fazer desaparecer no meu espírito toda a esperança humana. Para extirpar qualquer alegria dava o salto mudo do animal feroz.

Chamei o pelotão para, morrendo, morder a coronha dos fuzis. Chamei os torturadores para me afogarem com areia, sangue. A desgraça foi meu Deus. Me estendi na lama.Fui me secar no ar do crime. Preguei peças à loucura.

E a primavera me trouxe o riso horrível do idiota.

Ora, ultimamente, chegando ao ponto de soltar o último basta!, pensei em buscar a chave do antigo festim, que talvez me devolvesse o apetite dele.

A caridade é a chave.-Inspiração que prova que eu estava sonhando!

"Continuarás hiena, etc..." repete o demônio que me orna de amáveis flores de ópio. "A morte virá com todos os teus desejos, e o teu egoísmo e todos os pecados capitais."

Ah! pequei demais:- Mas, caro Satã, por favor, um cenho menos carregado! e esperando algumas pequenas covardias em atraso, como aprecia no escritor a falta de faculdades descritivas e instrutivas, lhe destaco estas assustadoras páginas do meu bloco de condenado eterno.


Arthur Rimbaud

Poeta Roqueiro

"Aí vem o primeiro marginal. Vivesse hoje, Rimbaud seria músico de rock. Drogado como o guitarrista Jimi Hendrix, bissexual como Mike Jagger, dos Rolling Stones. “Na estrada”, como toda uma geração de roqueiros. Nenhum poeta francês do século passado teve vida tão “contemporânea” quanto o gatão e “vidente” Arthur Rimbaud. Pasmou os contemporâneos com uma precocidade poética extraordinária — obras-primas entre os 15 e os 18 anos. De repente, largou tudo, Europa, civilização ocidental-cristã, literatura e, cometa, se mandou para a Abissínia, na África. Lá, longe da Europa branca e burguesa que odiava, levou a vida de mercador árabe, traficando armas, varando desertos nunca antes pisados, vivendo a grande aventura infantil, pré-figurada em seu nome de rei lendário. Breve durou esse Camelot. Da África, o rei Arthur voltaria à França para amputar uma perna e morrer, de câncer, num hospital de Marselha, delirando poesia, cercado por padres e sua irmã, ávidos pela confissão desse blasfemo.Claro que uma vida assim não caberia em versinhos. E uma ampla prosa, de sopro largo e rebelde a todas as medidas, que Rimbaud escreveu Uma Temporada no Inferno e Iluminações (...)
Enfim, como diz o próprio poeta: “Eu é um outro”. A melhor poesia de Rimbaud esteve, porém, em seu gesto final: a recusa do “sucesso”, a escolha do “fracasso”, a derrota da literatura, inimiga da poesia, para que esta triunfasse."
Paulo Leminski - Anseios Críticos 2

sexta-feira, 27 de março de 2009

Nuances de Freud em Caio


Caio Fernando Abreu, o maior escritor marginal e intenso que já conheci, incita-me a escrever-viver de maneira voraz, sepulcralmente "suja" e despojada.Parte de grande mutação intelectual, ou melhor, influência para minha formação pessoal, e intelectual em segunda ordem, "pedras de calcutá" me fez conhecer a existência de um "inconsciente", ou ao menos notar que existia algo para além do que julgava conhecer. É claro que naquele momento, em 2006, ainda não tinha propriedade de fato do que era o "inconsciente", afinal não conhecia os estudos freudianos sobre o assunto.Hoje, posso notar, com base nas teorias pulsionais do psicanalista, que Caio apresentou-me a essas nuances do âmago humano, sobretudo aquilo que conhecemos, através de Freud, como "id".São abordagens violentas e viscerais do cotidiano pulsional de que trata o formidável Caio em toda sua obra, evidenciando aquela máxima: " O Homem é, por essência, violento, sádico". O texto " O inimigo secreto" é uma prova consistente disso, como tantos outros trabalhos, demonstrando nas cartas da personagem principal intensa agressividade, sadismo, próprios do ser humano, atitudes que elucidam a superação do id sobre o superego, tendo o seu ápice no suicídio hipotético da personagem.O sulista também retrata em suas obras imagens típicas de um mundo "underground", "lado b", onde pulsões de vida e de morte se entrelaçam de maneira concisa, ou seja, menos recalcada: prostituição, preconceitos (sobretudo contra homossexuais), drogas e demais nuances que compõem o "inferno dantesco" da década de 80, principalmente.Posto essa colocação, Caio Fernando é tido, ao menos para mim, como excelente objeto de estudo freudiano, juntamente a toda sua riquíssima obra.

quinta-feira, 26 de março de 2009

Substituição do vestibular pelo Enem: Uma piada de mau gosto do Ministério da Educação.


É incrível como o governo tem a capacidade de degradar cada vez mais o ensino público. Se não bastasse o descaso com o ensino regular e o sucateamento das universidades públicas, a nova pérola do ministério da educação é propor a substituição do vestibular, das 55 universidades federais, pelo Enem- exame nacional do ensino médio. Segundo os mesmos, o exame será reorganizado, exigindo mais conhecimento dos alunos e mantendo aquela, ridícula, característica interpretativa de texto, ou seja, interdisciplinar.
Sou um tanto niilista, não acredito que essa substituição poderia contribuir para o crescimento e democratização, de fato, do ensino superior público, sobretudo porque o Enem, até então, é um exame falho e que não avalia o aluno de maneira concisa, mas sim superficial, afinal a prova “exige” do aluno conhecimentos ínfimos. Dessa forma, muitos deles têm uma oportunidade um tanto contingente, já que grande parte desses novos universitários desistem antes do término de seus cursos, pois não tem o preparo necessário para absorver o conteúdo.
Tão agravante quanto essa contingência de oportunidades é o sucateamento do ensino superior público, visto que as instituições privadas que disponibilizam vagas para alunos provenientes do ProUni ficam isentas de significativos impostos, grana que seria voltada para políticas públicas de ensino.
Pois bem, com tantos atos falhos e infames do Estado, será possível mesmo que a aprovação dessa proposta beneficiará a sociedade e alavancará a educação do Brasil ?!

quarta-feira, 25 de março de 2009

Talvez um áporo


Sinto-me mal, como se uma enorme náusea me consumisse pelas entranhas e, assolando minha existência, assumindo um abismo diário de solidão. Não estou confortável, definitivamente não estou.

Existe um desassossego visceral e constante em minha psique, parece-me que as possibilidades de futuro resumiram-se em um áporo sepulcralmente solitário: não estou preparado, e talvez nunca estarei, para viver o cotidiano singularmente, ou seja, sozinho. Sinto falta daquela preocupação única daquele indivíduo que lhe quer bem, das perguntas sutis de "como você está?" "como foi seu dia?", sem falar naquelas sentimentalidades naturais de tratamento do tipo: "amor" "lindo" "linda" e etc. ( de fato, isso é muito piegas mesmo. rs)

Bem, são "costumes", "hábitos", dos quais se tornam parte da existência de um relacionamento, tratamentos carinhosos e sinceros, no entanto particulares de um casal. Mas e quando se está "só", como "funciona" isso?! Como é a vida sem um "amor presente" ?!

Olho para o celular com certa expectativa, mas expactativa essa do que ? Logo reflito e noto que ninguém vai me ligar, não espero por, nem sequer, uma mísera ligação! Mas ainda assim espero por algo.

Não entra na minha cabeça tal "descompromisso", tal "liberdade vazia soltitária desconexa"; talvez porque sempre fugi do meu âmago, nunca querendo me deparar com o verdadeiro Rafael, aquele indivíduo confuso, desesperado, impaciente e melancolicamente covarde. Pois é exatamente isso: busco minha existência no "outro" e nunca em mim mesmo. Prova disso, dessa fuga frenética, é o enorme áporo que encontro-me nesse momento: não consigo conviver com um desconhecido, um ser conflitante e inquieto que não sabe pelo que espera, não sabe o que quer e, nem mesmo, oque fazer.

Em meio a tantas incógnitas, consigo concatenar o mínimo de ideias, esclarecendo algo que me parece essencial para o momento, a necessidade de escolher um caminho: Deparar-me com o meu "eu", desconhecido, e me enveredar em uma viagem ao abismo ou, então, continuar uma vida de recalques e felicidades efêmeras, depositando minhas pulsões em "outro" que não eu ?

Talvez tome a mais simplista e covarde atitude: a famigerada fuga através do amor.

Monstro Caótico

Mande ferozmente seus subterfúgios inconscientes para o abismo do recalque

As pulsões delirantes do id querem o levar as profundezas do paraíso infernal, inexistente no mundo judaico cristão

O pai, todo poderoso e unificante, não é nada a mais que uma criação delirante e desesperadora da loucura originária;
com o propósito de suprir o imenso abismo do âmago humano,inumano.

A felicidade, ilusão humana, tem suas raízes em um tratado de paz entre o superego e o ego; no entanto esse contrato é incinerado no momento em que as paixões da gênese rebelam-se, destroem as grades, invadindo como um mar aquela pequena ilha consciente.

O caos estabelecido gera a estranheza, repulsa daqueles que são dados como normais,
Entretanto mal sabem, esses imbecis, que esse é o estágio originário e identificador do monstro pulsional chamado homem.

Introspecção

Nada ocorre, estou isento dos meus pés

A saliva, amarga, engasga ao abismo

Obscuro e desconhecido; mãos tateiam o vento.

Seu aroma, antes suave, habita o inconsciente

Recalcado, extirpado, o afeto migrou ao desconhecido

Inter relacionando-se com as pulsões de morte

Desmerecido pelo ânimo, destituído do magnânimo.

Gritar, Rasgar, correr enveredado na histeria,

Penúrias comportamentais que não foram possíveis,

Afinal o juízo ainda opera de maneira despótica.

A serenidade foi obstruída, através do desespero

Fomentado pela múltipla solidão.