quinta-feira, 30 de abril de 2009

A Felicidade Existe

A morte é efêmera, quase sempre sutil. Mas em alguns momentos ela nos apunhá-la com tanta força que padecemos por horas, dias, meses e nem sempre retornamos para cá da mesma forma.
Hoje estou sem o fígado. E amanhã, quando acordar, quem garante que meu coração estará batendo?

terça-feira, 28 de abril de 2009

"Cê é jão, pra mim" - Uma chacina de recalques.

Benjamin nas mãos e o último instantâneo no pensamento, presenciei uma cena essencialmente humana, sublime:
Chutes, pisões e socos eram distribuídos em um rapaz em plena "ágora" ferrazense, compondo, em meio aos gritos de "cê é jão, pra mim!" e estrondos graves de botinadas no tórax alheio, algo semelhante a um funk carioca dos mais interessantes, evidenciando a bela sutileza do caos pulsional humano. O sadismo da "platéia" refletia-se no sorriso aprazível da "garota hot-dog" com aquela água amarelada que escorria do canto da sua boca. Alguns garotos gritando "mata, mata!", satisfazendo suas pulsões na completude alheia, fomentavam a transgressão insaciável dos agressores.
Nota-se que a mutilação da linguagem esteve intimamente ligada ao ato "licitamente ilícito"(visto que a polícia se manteve estática), afinal os indivíduos que estabelecem um diálogo "civilizado", recalcado, não terminam um desentendimento com atos tão violentos e prazerosos como esses, sobretudo para aqueles que apenas contemplam.

Obra de arte - Jackson Pollock


Homem, o eterno monstro caótico.

segunda-feira, 27 de abril de 2009

Lautréamont : escatologicamente intrínseco, sorumbático e sádico.

Segundo Breton, "Cantos de Maldoror e Poesias brilham com esplendor irresistível: são a expressão de uma revelação total que parece exceder as possibilidades humanas."

Trecho de Os Cantos de Maldoror

...Estou sujo. Os piolhos roem-me. Os porcos, quando me olham, vomitam. As crostas e as úlceras da lepra gretaram a minha pele, coberta de pus amarelento. Não conheço a água dos rios nem o orvalho das nuvens. Um cogumelo enorme, de pedúnculos umbelíferos cresce na minha nuca, como num monturo. Sentado num móvel informe, há quatro séculos que não movo os meus membros. Os meus pés criaram raízes no solo e formam, até à altura do meu ventre, uma espécie de vegetação vivaz, povoada de ignóbeis parasitas, a qual ainda não faz parte da planta e, todavia, já não é carne. Apesar de tudo, o meu coração continua a bater. O que é extraordinário, espantoso, dado que a podridão e as exalações do meu cadáver (não me atrevo a dizer do meu corpo) não o alimentam suficientemente. Debaixo do meu sovaco esquerdo instalou-se uma família de sapos, e, quando um deles se move, faz-me cócegas. Cuidado, não vá escapar-se algum e pôr-se a raspar com a sua boca o interior do ouvido: haveria o risco de ele se introduzir no cérebro. No meu sovaco direito há um camaleão que lhes faz um caça implacável para evitar morrer de fome: todos têm de viver. Mas, quando um dos bandos se furta completamente aos ardis do outro, não estão com meias medidas e põem-se a chupar tranquilamente a camada de gordura que cobre as minhas costas; já estou habituado.
Lautréamont
Arte de Salvador Dalí - Canibalismo Outonal (1936)

domingo, 26 de abril de 2009

Nada, Nada, Nada.

Celebes (1921) - Max Ernst

O elefante de Celebes
Tem melado no fiofó
O elefante de Sumatra
Está comendo sua avó
E o elefante indiano
Não sabe onde fica o ânus.

sábado, 11 de abril de 2009

All i need

O grande masturbador - Salvador Dali


Eu sou o ato seguinte
Esperando nas asas
Eu sou um animal
Preso em seu carro quente
Eu sou todos os dias
Que você escolhe ignorar

Você é tudo que eu necessito
Você é tudo que eu necessito
Eu estou no meio de seu retrato
Deitado na grama

Eu sou uma mariposa
Quem quer apenas compartilhar de sua luz
Eu sou apenas um inseto
Tentando sair da noite

Eu só fico com você
Porque não há nenhuma outra

Você é tudo que eu necessito
Você é tudo que eu necessito
Eu estou no meio de seu retrato
Deitado na grama
Está tudo errado
Está tudo certo
Está tudo errado

Thom Yorke

domingo, 5 de abril de 2009


Metafísica não resolve os anseios da alma, do intrínseco;

Ódio, fezes engendradas nos nossos dentes amarelados pela cafeína

Tocar-se no abismo sepulcral, masturbar-se nos delírios da sombra

Id, putaria, sem-vergonhice-arrependimento do não escolhido pela Moral!

A proposta é essa mesma: incompreensão do inevitável estabelecido no hoje.

Dar de costas aos dogmas engendrados no ser fútil do descaso.

Como as questões são meramente estabelecidas pela “tabula rasa” judaica-cristã.

Não seria possível vivermos de acordo com nossas diferenças pré-estabelecidas


O respeito é algo distante, a padronização da vida dificulta a realidade:

Coisas que deveriam existir para facilitar a convivência, hoje, criam um fosso exorbitante.

Pensar não é lícito na convivência despótica familiar, muito menos cogitar a controvérsia.

Banalização do argumento, imposição da hierarquia ocidental: não estamos livres das cadeias culturais que danificam a criticidade alheia.

FODA-SE !

"O Inferno são os outros"
Sartre

sexta-feira, 3 de abril de 2009


Vasto, pútrido e faminto

Mastigar suas vísceras foi para mim

como flutuar por entre o descaso aporético

dos infames mendigos do paraíso.

Cuspi seu fígado na calçada suja,

infestada de flores perfumadas e cinzentas,

após mastigá-lo até que a última gota de sangue,

docemente amarga e insana,

escorresse pelo canto da minha boca.

Tornando-me uma evidência psicótica

da saborosa completude pulsional.


"Un soir, j' ai assis la Beauté sur mes genoux. - Et je l' ai trovée amère. - Et je l' ai injuriée."
Rimbaud - Une Saison en Enfer