
Sinto-me mal, como se uma enorme náusea me consumisse pelas entranhas e, assolando minha existência, assumindo um abismo diário de solidão. Não estou confortável, definitivamente não estou.
Existe um desassossego visceral e constante em minha psique, parece-me que as possibilidades de futuro resumiram-se em um áporo sepulcralmente solitário: não estou preparado, e talvez nunca estarei, para viver o cotidiano singularmente, ou seja, sozinho. Sinto falta daquela preocupação única daquele indivíduo que lhe quer bem, das perguntas sutis de "como você está?" "como foi seu dia?", sem falar naquelas sentimentalidades naturais de tratamento do tipo: "amor" "lindo" "linda" e etc. ( de fato, isso é muito piegas mesmo. rs)
Bem, são "costumes", "hábitos", dos quais se tornam parte da existência de um relacionamento, tratamentos carinhosos e sinceros, no entanto particulares de um casal. Mas e quando se está "só", como "funciona" isso?! Como é a vida sem um "amor presente" ?!
Olho para o celular com certa expectativa, mas expactativa essa do que ? Logo reflito e noto que ninguém vai me ligar, não espero por, nem sequer, uma mísera ligação! Mas ainda assim espero por algo.
Não entra na minha cabeça tal "descompromisso", tal "liberdade vazia soltitária desconexa"; talvez porque sempre fugi do meu âmago, nunca querendo me deparar com o verdadeiro Rafael, aquele indivíduo confuso, desesperado, impaciente e melancolicamente covarde. Pois é exatamente isso: busco minha existência no "outro" e nunca em mim mesmo. Prova disso, dessa fuga frenética, é o enorme áporo que encontro-me nesse momento: não consigo conviver com um desconhecido, um ser conflitante e inquieto que não sabe pelo que espera, não sabe o que quer e, nem mesmo, oque fazer.
Em meio a tantas incógnitas, consigo concatenar o mínimo de ideias, esclarecendo algo que me parece essencial para o momento, a necessidade de escolher um caminho: Deparar-me com o meu "eu", desconhecido, e me enveredar em uma viagem ao abismo ou, então, continuar uma vida de recalques e felicidades efêmeras, depositando minhas pulsões em "outro" que não eu ?
Talvez tome a mais simplista e covarde atitude: a famigerada fuga através do amor.