quarta-feira, 19 de dezembro de 2012

Pudemos enfrentar domingos

E agora
eu aqui lendo 14.805 representações -
trocas estetas das carícias
mais íntimas:
tempos de céus cheirosos,
dos sorvetes gostosos que te consumiam
de forma verdadeira e sutil.

E neste mesmo momento,
encontro-me com vagalumes cegos
que iluminam meus pensamentos
e cegam meus recalques.

Que (a)caso,
deparo-me com o dia 15 de agosto
- quão sobreposto -
elefantes sobrevoam a
brancura de sua pele
como a convergência transcendente
entre seu cheiro,
seu pêlo
e a leveza daqueles balões
que flutuam levemente
sobre nossas cabeças de algodão.

Como a vida pôde alcançar
tamanho descaminho?
Éramos doces, belos e
inteligentes o bastante
para que não fadássemos
 neste umbral séquido.

 (...)

Nesta madrugada, acordei com fortes dores
no peito,
não sei se por conta dos infinitos e pensantes
ensejos que venho (es)tragando
ou se, de modo mórbido e esquálido,
meu coração está comprimindo todas as esperanças
daquele deleite sonho futuro:

família sublime, dois filhos felizes e dóceis,
eu e você acordando diariamente
em meio aos nossos anseios e corações unificados -
a maciez de nossas projeções reais.

Materializamos um mundo paralelo,
construindo edifícios (in)transponíveis
com nossas exasperadas mãos apaixonadas;
seus cabelos formavam coloridos mares
que reluziam em nosso céu de estrelas
quentes e pacíficas.

Assim como naquele filme pedante do DiCaprio,
que sempre amei e você nunca tinha visto,
[até o momento da consumação de minha falência em sua vida prática]
em que um casal de amantes metafísicos
se enclausurava em suas inconsciências 
por conta de uma desmedida resignação
com o mundo empírico -
resistência visceral, representação intensa
de um amor real e psíquico.

Mas, assim como no dilacerante desfecho deste romance analítico,
nosso mundo desmoronou, destruí
grande parte das estruturas que solidificavam nossas almas -
antes límpidas e insuperáveis sublimações.

 E nesta degenerada temporada no inferno,
totalizantes desencontros abissais
acinzentam-me no umbral de escombros decepcionantes:
um labirinto tísico, preponderante. 


Para (re)ler ao som de "Canções de apartamento" - Cícero
 

segunda-feira, 17 de dezembro de 2012

Cafeína

Um copo de café corriqueiro, um minuto de nadificação e uma sublimação:

“Logo após beijar suas canelas, cheirosíssimas e brancas, desatava os belos laços róseos, com toda delicadeza poética de Neruda, e passeava as pontas dos macios fitilhos doces por toda sutileza da sua pele tênue; percorri, assim, por todos os lindos e desejados corações do seu corpo sereno, atentando-me a cada contorno ameno e meigo destas belas representações que se projetam na minha psique.
Com a saliva acumulada de prazer e desejo, vou mordendo vagarosa e intrinsecamente as suas costas, saboreando os sentimentos delirantes e furtivos do seu âmago. Sigo levemente para a parte inferior deste desejo onírico, deslizando liricamente os lábios na brancura e maciez natural das suas nádegas: realizando as sublimações psíquicas que me conduzem a pseudo insanidade da ‘irrealidade do verbo estar’.
Realização semelhante obtenho na surreal completude de deitar a língua quente no pequeno coração abaixo de sua virilha, subindo libidinalmente ao centro da sua composição pura e deliciando-me com a permanência dos meus patológicos lábios quentes em meio a umidade saborosa e sublime dos seus...”


rascunhos e recalques

Num copo de cerveja
não há quem não veja
aquele sopro doce:
tua boca, uma cereja.

No descompasso
isento de disfarce
desfibro, desfaço
o salpicado passo.

 Faminta retina
o coração tritura
e o amor, clausura,
despido desatina.

rascunhos e recalques II

passos macios
cabelos doces
capitu febril
incita-me cores.

mítica erógena
exótica antítese
mímese erótica
deleite síntese.

rascunhos e recalques III

sorriso onipotente
desestrutura a fala
doce sopro: contente
descongela-me e cala.

incinera-me infância
ente vasto que dança
coração, criança
seduz -me, encanta.

como é fácil
estar entre os quinze
corpo frágil
segue e finge
não estar 
desconjurado.

quantas janelas 
semi-abertas
entre nada
supor o tudo
ensejo simples,
o b s c u r o.

sopro cabalístico

sete signos
secos símbolos
sedento sinto
seu cenho
cético,
seu sopro
sísmico

domingo, 16 de dezembro de 2012

"Torna-te quem tu és"

Engendre-se no mais íntimo e tênue
desassossego de sua ínfima introspecção.
Descubra, neste incisivo umbral,
os crepúsculos lacunares de sua gênese
(equívocos esquálidos e refutáveis).

Sabendo que nunca será o que fomos,
nem mesmo o que sou,
escancare suas incompletudes nas
 idiotizadas e nadificantes condutas existenciais:
peças desprezíveis deste tabuleiro vazio.

Continue a provar para o ego
 a vida de nossas antíteses
que sempre estiveram ocultas
nas poeiras de sua utópica inconsciência.

A sapiência não é mera virtude
em que qualquer espasmo
- corroído em disparate -
apropria-se de maneira real.

E hoje,
após imensa falácia cognitiva,
permite-se retornar aos escombros
de sua doxa pífia e aviltante -
inerência sedutora exorbitante
de um fatigado descaminho:
ontologia fútil, errante.

terça-feira, 11 de dezembro de 2012

aurora

desconexo descaso
prepondera-se em
nossos descaminhos:

uma vida,
duas cores
antitéticas e paradoxais
consomem-se em suas
confluências espontâneas

vastidão plural e
introspectiva
de um áporo  sinestésico
e doce.

Fronteiras subjetivas

Quantas vidas,
vazias e desconexas,
serão necessárias
para tamanha liberdade -

sentido único e
c a m i n h a n t e
dos desiludidos acasos
psíquicos.

não, a vida ainda
não completa-nos
em sua última
instância -

seu amor, intransponível
e atemporal,
ainda incita-nos
pleno desassossego.

Esfinges oraculares

Os gatos estão por entre
as flores de nossas
divagações inversas

há um exorbitante lirismo
nos passos comedidos
e confortáveis
daqueles seres em introspecção

a fumaça,
em seu balé suspenso,
conduz a pluralidade
subjetiva destes autônomos
(g)atos peculiares -

corações exasperados de
solitude reflexiva e
íntima singularidade.

Jardins oblíquos

Signos intransponíveis,
dejetos peculiares de
uma subjetividade calma -

cores e cheiros
brotam no imaginário
ser em decomposição.

regenerar-se por entre
os jardins opostos:

um sopro de vida,
surto thanático,
carinhoso,
fomenta e fortalece
nossas introspecções mais íntimas

assim como felinos
que desdenham seus instintos
em nome da paz
inconstante,
aporética.

Fendas

O amor nunca esteve
sob nossos corações.

A culpa, sorrateira e
espontânea,
brotou de nossos
sentidos exasperados,
ocasionando a perda
dos signos alardeados.

Um caos nunca foi
exorbitante e propício
aos sublimantes caminhos -
sorumbáticos / ferozes.

A vida, vago vértice,
irrompe retilíneos
escombros do acaso.

cor/ações

Os portais traumáticos
residem nos corações
secamente degenerados
dos famintos e
arrojados:

famintos de sublimações
e arrojados de
fétidas premissas
que mal cabem em suas
calejadas e horrendas
mãos -

tomados pela ferida existencial,
não concebem sua ínfima
existência em meio ao
nada.

Solitude outonal

A falência nos toma
como galhos secos
de uma árvore flagelada
e, sutilmente, envelhecida.

Cada um dos galhos
(mesmo secos e sobrepostos)
incita-nos uma vida
breve e soberana

como um transeunte
a esmo, à deriva,
em meio ao descaso
das dores, do cume
e da degeneração
r e n e g a d a.

quinta-feira, 6 de dezembro de 2012

(a)caso escarlate

doce flor
de voz insaciante
lábios escassos
de vazies

alma límpida e
formidável
patologia simples,
insuperável

flores e frutos
reluzentes como
luto...

a paz reside
no obscuro
carinho tenso
e obtuso

pacífico signo,
voz indecifrável
ao acaso
e o ar -
doce inefável -
destoa a vida
(in)saciável.

quinta-feira, 22 de novembro de 2012

esmaecimento


a m p l a m e n t e 
destoado:
o fato
trans 
bor 
da
n
t
e

o amor nunca pôde descaracterizar
a dor, a dúvida, 
a doença.


" Pouco é viver / mas pesa / como todo o ser / como toda a luz / como a concentração do tempo."

domingo, 18 de novembro de 2012

cosmogonia dialógica

obrigado, meu deus,
por tudo me dar:
um copo de conhaque
e o asco a pensar.

ciclo vago
seco abismo
- destoado, escapo -
herege/sacro
inatismo.

quarta-feira, 7 de novembro de 2012

in-transição

destino insólito
inóspita vida
despótica alma
inválida ida.

devido acaso
detido afago
despido/usado
d e l i m i t a d o.


"Oh Life, begun in fluent Blood / And consummated dull - / Achievement, contemplating thee - / Feels transitive and cool."

segunda-feira, 30 de julho de 2012

saison


dentro 
[um atalho]
forma flácida
intenso impasse

e s t é r i l  e s p a ç o

enquanto o quando
fornica o acaso
extenso asco
impenso e
passo

saison II


dentre (in)esquecidos
a fala
sobre-vive

o nada
destoa a forma
e tudo
destila fácil

l'enfer

deposto e inerte
cego
sob o exposto
incerto sobre o
vértice
da existência
o desgosto

quarta-feira, 29 de fevereiro de 2012

intradução: amour

indivisível receio onírico
suspenso espasmo súbito
secular devaneio atípico
intraduzível signo pudico

anseio cético perene
sentença sádica soberba
sentido vasto solene
clausura sórdida sedenta

dionisíaco sonho dedutivo
imperativo ciclo indiviso
distante sopro remissivo
instante-verbo destrutivo

sexta-feira, 24 de fevereiro de 2012

théogonique sperme

cosmos & agonia
cume antagônico
antítese aporia:
câncer cosmogônico

síntese apática
profética heresia
mimética afasia
poética estática

estorvo herético
estima ereção
égide tanática
(es)finge castração

gnose erógena
andrógina gênese
esclerose múltipla
mítico sêmen

sexta-feira, 27 de janeiro de 2012

lac_na traumática

o que
ocorre
do que
demove
de modo
inócuo
saliva
escorre

decorre
instável
dis-solve
instante
ferida
envolve
embebe
e rran te.

quarta-feira, 18 de janeiro de 2012

imutabilidade


nadacalma
tudo oculta
nada como tudo
numa coisa toda
nessa causa tida
nossa calma tola.
entre
toda coisa
(tudo & nada)
nada tornam
nasce tudo
taciturno

quinta-feira, 12 de janeiro de 2012

esfinge heteronímica

qualquer pessoa
posso pensar
entre páginas
lê Pessoa

posto que Pessoa
pessoas perpassa
por ser poeta
o ente Pessoa

proletários
etária prole
proliferam pessoas
que lêem Pessoa

passadas pessoas
possuem pensar
visto que passeiam
passos de Pessoa

mesmo o padeiro
do pão se esquece
quando em mãos aquece
Alberto Caeiro

o padre polido
à pederastia padece
após ter lido
Caeiro, o mestre

Álvaro, Alberto
Ricardo Reis
pessoas improváveis
psiques indecifráveis

traumatísico

tanta coisa
coisa à toa
tanto causa
tudo entoa

timbre tenso
denso tremo
tudo temo
todo tempo

toda trama
trava tema
todo trauma
tem poema

tendo visto
todavia
toda vasta
tirania

terça-feira, 10 de janeiro de 2012

desgnosis mnémonique

como deidade
à calma
comodidade
acalma
acaso
a causa
acuse
Cassirer
corromper
Marcuse

marco do
desuso
maço de
descaso
marcas
deste caso
males
destilados

desabito
este fato
neste fado
desvalido
deste lado
desabrigo

sábado, 7 de janeiro de 2012

moralis spéculative

poderíamos
des-
compassados
pose a
posse
passo a
passo
obter
intento &
abster
em tempo

(tanto que
talvez
toda e
qualquer vez
despir-se
de tal
solidez)

poderíamos
trans/
exitar
catartica-
mente
sob cogitans
(in)
sanamente?